Os Distintivos da Teologia Batista Pactual │ Por Pascal Denault
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Uma Comparação entre o Federalismo dos Batistas Particulares e dos Pedobatistas do Século XVII
Edição Revisada
Pascal Denault
Resumo
Esta dissertação lida com a teologia pactual. Tal abordagem à Escritura nasceu da Reforma Protestante e foi desenvolvida extensivamente daí por diante, particularmente pelos Puritanos do século XVII. A teologia do Pacto é o fundamento do pensamento Reformado como delineado na Confissão de Fé de Westminster (1646).
Havia um consenso no coração do Puritanismo reformado acerca das doutrinas da revelação, da Trindade, da soberania divina, da Queda e do pecado do homem, da graça de Deus, da pessoa e da obra de Cristo e, em algum grau, da lei. No entanto, havia importantes discordâncias quanto à doutrina da Igreja, bem como quanto à do batismo. Essas duas doutrinas não poderiam ser consideradas isoladamente porque elas tinham as mesmas implicações teológicas. Essas implicações são o que chamamos de teologia do pacto. O fato de que os Puritanos tinham diferentes pontos de vista acerca da Igreja e do batismo é o resultado das diferentes maneiras de entender as alianças bíblicas.
Os Puritanos do século XVII podiam ser separados em três grupos: Presbiterianos, Congregacionais e Batistas. Os dois primeiros grupos eram pedobatistas, ao passo que o terceiro era credobatista. A divisão quanto à teologia do pacto foi causada pela questão do batismo. Os pedobatistas defendiam um entendimento da teologia do pacto e os Batistas defendiam outro. O objetivo deste estudo é apresentar e comparar essas duas abordagens distintas. Desejamos dar nova vida aos debates dos teólogos do século XVII ao usar seus próprios escritos. À medida do possível, tentaremos definir as características das teologias Pedobatista e Batista, para dar ao leitor uma ideia clara daquilo que distinguia esses dois grupos.
A introdução desenvolverá, posteriormente, a utilidade da hipótese que afirma que a teologia do pacto é a distinção fundamental sobre a qual todas as outras diferenças entre Presbiterianos e Batistas são construídas. Depois de uma breve visão geral do desenvolvimento da teologia do pacto, examinaremos as fontes usadas nesta obra.
O Capítulo 1 explica como os reformadores entenderam o Pacto de Obras. Esse capítulo é pequeno, visto que a divergência vital entre as duas teologias que são o tema desta tese não foi encontrada nesse nível. O segundo capítulo, sobre o Pacto da Graça, é o mais extenso, uma vez que apresenta o fundamento da fé Pedobatista e Batista. Descobriremos as duas formas, radicalmente diferentes, de pensamento que fundamentam as duas teologias distintas. Cada concepção do Pacto da Graça teve consequências teológicas e hermenêuticas que examinaremos.
Os dois últimos capítulos, sobre a Antiga e a Nova Alianças, baseiam-se no Capítulo 2. O Pacto da Graça determinou a maneira como as outras alianças bíblicas foram entendidas pelos Presbiterianos e Batistas. Uma vez que a maioria das considerações das questões acerca da Nova Aliança é abordada no segundo capítulo, o capítulo da Antiga Aliança é maior. Esse capítulo cobre o pacto Abraâmico em relação ao Pacto da Graça e ao pacto Mosaico. Veremos, na maior parte, como os Batistas rejeitaram o entendimento Presbiteriano desse pacto e como eles o substituíram. O capítulo também lida com o pacto Mosaico, sua natureza e como ele se relaciona com o Pacto de Obras e com a Nova Aliança. O capítulo sobre a Nova Aliança limita-se à questão de sua novidade. Isso é feito respectivamente aplicando os paradigmas Pedobatista e Batista ao Pacto da Graça. As consequências de um modelo teológico versus o outro se tornam aparentes quando eles são aplicados à Nova Aliança.
Ao final deste estudo, o leitor deve ter um claro entendimento dos distintivos fundamentais existentes entre as teologias Batista e Pedobatista e onde elas culminam respectivamente.
Os Distintivos da Teologia Pactual Batista: Uma Comparação entre o Federalismo dos Batistas Particulares e dos Pedobatistas do Século XVII.
Traduzido da versão em inglês, que por sua vez foi traduzida do francês por Mac e Elizabeth Wigfield:
The Distinctiveness of Baptist Covenant Theology: A Comparison between Seventeenth-Century Particular Baptist and Paedobaptist Federalism (Revised Edition)
Por Pascal Denault
Copyright © 2013 Pascal Denault. Todos os direitos reservados.
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Publicado por Solid Ground Christian Books
Vestavia Hills AL 35266
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Copyright © 2018 Editora O Estandarte de Cristo
São Paulo, SP, Brasil
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1ª edição em português: 2018.
ISBN: 978-85-85200-01-5
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Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora O Estandarte de Cristo. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
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Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.
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Tradução: Rafael Junio Abreu
Revisão ortográfica: Helen Bampi
Editor: William Teixeira
Capa: Guy Leroux
Adaptação da Capa: William Teixeira
INTRODUÇÃO
Não há dúvida de que os Batistas e Pedobatistas Presbiterianos do século XVII tinham uma teologia parecida. A natureza quase idêntica da Confissão de Fé de Westminster e da Segunda Confissão de Fé Londrina é testemunha desse fato inegável. Nesta obra, entretanto, não investigaremos o que unia os Batistas e os Pedobatistas,[2] mas sim o que os distinguia.
1. Hipótese
A diferença mais óbvia entre Batistas e Presbiterianos é o batismo. Entretanto, o batismo não é o distintivo fundamental entre esses dois grupos. Propomos que a teologia pactual[3] é o que caracteriza os Batistas e Pedobatistas, e que todas as divergências existentes entre eles, tanto teológicas como práticas, incluindo o batismo, derivam-se de suas diferentes maneiras de entender os pactos bíblicos. O batismo não é, portanto, o ponto de origem, mas a consequência das diferenças entre pedobatistas e credobatistas. Ligon Duncan escreve: “O principal ponto de controvérsia entre a posição Batista e a posição Presbiteriana, ou pedobatista, não está em nossas doutrinas dos sacramentos. Está em nossas doutrinas acerca da Igreja”.[4]
Não é o batismo em si o ponto de divergência; mas sim o batismo abordado de acordo com a doutrina da Igreja (que não está em nenhum outro âmbito senão no da teologia do pacto). Antes de perguntar: “Quem pode ser batizado?”, há uma questão mais fundamental: “Quem está no pacto?”. Essa é a consideração mais imprescindível ao se definir a identidade dos Batistas. Esse é o porquê de, apesar da grande proximidade entre a eclesiologia Congregacional e Batista, essa matéria haver se constituído em ponto de divisão entre os dois grupos ao invés de uni-los. James Renihan escreve: “Isso não quer dizer que seus pontos de vista são mutuamente excludentes, mas simplesmente que a eclesiologia foi a força motriz por trás do movimento Batista e forneceu uma identidade distinta daquela dos Independentes”.[5]
Os Batistas não consideraram a questão do batismo como um assunto separado; para eles, essa matéria estava intrinsecamente ligada à sua teologia como um todo e ao seu entendimento geral das Escrituras. Eles rejeitaram o pedobatismo baseando-se em algo mais do que em uma análise da prática do batismo no Novo Testamento e no fato de que ali não se encontram exemplos de batismo infantil. Esse tipo de argumento — princípio regulador, definição de batismo no Novo Testamento, etc. — era de importância secundária na apologética Batista.[6] O debate em torno do batismo envolvia uma questão muito maior do que aquela da prática sacramental. Era um debate sobre a estrutura das Escrituras; o significado e a natureza das diferentes alianças que Deus fez com os homens; continuidade e descontinuidade na revelação e a realização do plano de Deus; a própria natureza do Evangelho e da Igreja estava no centro desse debate.[7] Os Batistas não apenas contestavam uma prática que parecia equivocada, mas também um sistema teológico global subjacente a essa prática, desafiando, assim, os fundamentos principais do federalismo Presbiteriano.[8]
Os Batistas, portanto, não procuravam definir a doutrina do batismo primeiro para depois a ajustar à doutrina da Igreja. Sua doutrina do batismo era a consequência de uma abordagem teológica, semelhante em diversos aspectos, mas ao mesmo tempo com claras diferenças daquela da maioria dos pedobatistas da época. A questão que os preocupava não era simplesmente quem poderia ser batizado nem qual a forma bíblica dessa prática. A questão que fez deles Batistas era saber quem compunha o povo de Deus. Essa indagação levantou uma série de outras questões que trouxeram à tona uma teologia do pacto diferente daquela herdada pela Reforma. Evidentemente, Batistas e pedobatistas não tinham a mesma opinião acerca de quem compõe a Igreja. Quando eles debateram essa questão e as consequências necessárias, o batismo se tornou a manifestação concreta de suas respectivas convicções. De acordo com David Benedict, o debate em torno do batismo, que começou em meados do século XVII, trouxe à tona uma abordagem inovadora para a teologia federal.[9] O pensamento teológico estava florescendo durante aquela época e teve a teologia federal como seu arcabouço. Os Batistas nasceram nesse contexto de progresso teológico. Seu aparecimento repentino é em si mesmo uma ramificação do pensamento Reformado. Em um curto período de poucas décadas, os Batistas articularam sua própria teologia. O objetivo de nosso trabalho será trazer à luz a natureza específica dessa teologia, particularmente, seu entendimento distinto das alianças bíblicas.
2. Metodologias e Fontes Originais
Uma das dificuldades de nosso trabalho vem do fato de não haver uma interpretação consensual da teologia do pacto entre Pedobatistas[10] nem entre os Batistas. Quando tentamos definir a abordagem Pedobatista, é impossível apresentar uma definição que contenha todos os aspectos. Igualmente, há muitos aspectos controversos no lado Batista.[11] Tentaremos, no mínimo, limitar os princípios teológicos gerais que caracterizam as duas partes que serão comparadas. Nosso método consistirá em definir a diferença fundamental entre os Presbiterianos e os Batistas do século XVII tendo como base os diálogos preservados através de seus escritos. Usaremos as fontes originais diretamente. Essas fontes são compostas por confissões de fé e vários tratados escritos por teólogos pedobatistas e Batistas.[12]
Embora este livro esteja relacionado à teologia histórica, a abordaremos a partir de uma perspectiva das teologias bíblica e sistemática. Portanto, não seguiremos o desenvolvimento do modo Batista de pensar linearmente, mas apresentaremos essa perspectiva ao seguirmos a ordem bíblica das alianças. Esse método nos permitirá sistematizar a teologia Batista a fim de compará-la com a teologia pedobatista.
2.1. Confissões de Fé e Catecismos
Dois documentos são particularmente importantes em nossa pesquisa: a Confissão de Fé de Westminster e a Segunda Confissão de Fé Londrina, mais conhecida como Confissão de Fé Batista de 1689 (CFB1689). Esses documentos são importantes, pois não representam a opinião de um só teólogo isolado, mas a posição oficial adotada respectivamente por Pedobatistas e Batistas. A Confissão de 1689 é, de fato, uma versão Batista da Confissão de Fé de Westminster. Ela é, portanto, essencial na análise de como os Batistas modificaram essa Confissão de Fé: o que mantiveram, o que omitiram, reformularam ou adicionaram.[13]
A Primeira Confissão de Fé Londrina (1644-46) se revela uma fonte de igual importância. Embora não apresente a teologia do pacto substancialmente, nos permite inferir que, desde suas origens, os Batistas aderiram à abordagem Reformada do entendimento das Escrituras e à salvação seguindo um arcabouço pactual.[14] Além do mais, como veremos, já em 1644 os Batistas tiveram uma compreensão ímpar do Pacto da Graça e da Nova Aliança.
Às confissões de fé, é necessário adicionar os catecismos: o Breve e o Catecismo Maior de Westminster, bem como os Catecismos Batistas.[15] Há um outro catecismo que é muito importante no estudo da teologia Batista do século XVII: o “Catecismo Ortodoxo” escrito por Hercules Collins, pastor da Igreja Batista Old Gravel Lane, e publicado em 1680. O pastor Collins seguiu o Catecismo de Heidelberg enquanto escrevia o seu; as particularidades do seu, portanto, são muito importantes. Sobre isso, James Renihan diz:
Um dos principais ministros entre os Batistas Particulares entendeu que a teologia articulada pelos teólogos de Heidelberg estava em harmonia com a sua própria e com a maior parte do movimento do qual fazia parte. A escolha de Collins do título “Um Catecismo Ortodoxo” é digna de nota, pois tem duplo significado: mostrava o verdadeiro caráter das doutrinas que promovia e também identificava a origem dessas doutrinas: os assim chamados teólogos Protestantes ortodoxos da Europa. Collins estava fazendo uma afirmação enfática: assim como eles eram ortodoxos, nós também somos.[16]
2.2. Teólogos Pedobatistas e Batistas
Aqui estão algumas fontes que não podem ser ignoradas ao entrarmos no debate do século XVII no tocante à teologia do pacto. Essa não é uma lista exaustiva, mas representativa; ela não contém todos os documentos que consultamos, e muito menos todos aqueles que existem, mas está limitada àqueles que foram mais úteis. Apresentaremos primeiro as fontes pedobatistas e em seguida as fontes Batistas, das mais antigas às mais recentes.
2.2.1. Os Pedobatistas
William Ames (1576-1633) se refugiou na Holanda em 1610 devido à hostilidade aos Puritanos na Inglaterra. Foi membro do Sínodo de Dordrecht que condenou o Arminianismo, e posteriormente se tornou reitor da Universidade de Franekeradeel. Sob sua tutela estavam dois estudantes que se tornariam teólogos importantes no desenvolvimento do federalismo Reformado: Johannes Cocceius e Gisbertus Voetius. O federalismo de Ames deu continuidade ao desenvolvimento da teologia pedobatista, da qual a principal ênfase pode ser encontrada em sua obra: Medulla Theologiae (The Marrow of Theology, 1629). Esse livro foi o vetor principal na difusão da influência de Ames, especialmente na Nova Inglaterra.[17] Seus escritos também circularam pela Europa, particularmente entre os Puritanos. Perto do fim de sua vida, Ames pastoreou uma igreja de refugiados cuja membresia era inteiramente composta por crentes regenerados. Como resultado, não é surpresa que os Congregacionais e os Batistas foram grandemente inspirados por sua teologia.[18]
John Ball (1585-1640) foi um Puritano Presbiteriano cuja teologia correspondeu grandemente àquela da Assembleia de Westminster. Ele morreu pouco antes da realização daquela grande assembleia, mas sua obra, A Treatise of the Covenant of Grace [Um Tratado sobre o Pacto da Graça], publicado em 1645, teve grande influência ali. A teologia do pacto apresentada por Ball representou o federalismo Presbiteriano típico. Ball foi citado algumas vezes como uma autoridade no federalismo Reformado por outros autores Presbiterianos. Disponível como fac-símile da edição original, essa fonte é considerada imprescindível, especialmente porque Ball criticou a eclesiologia separatista, com a qual os Batistas têm muito em comum.
Peter Bulkeley (1583-1659) foi um teólogo Puritano e reitor da paróquia Odell em Bedfordshire.[19] Ele se aliou aos não-conformistas antes da Primeira Guerra Civil Inglesa e exilou-se na Nova Inglaterra a fim de desfrutar de maior liberdade. Escreveu um tratado dedicado à teologia do pacto que foi publicado em Londres em 1646: The Gospel Covenant; or the Covenant of Grace Opened [A Aliança do Evangelho; ou o Pacto da Graça Explicado].
Thomas Blake (1597-1657) também foi um Puritano de convicções Presbiterianas. Os tratados de Blake acerca da teologia do pacto são importantes, pois iniciaram um diálogo com os oponentes do batismo infantil, particularmente, com John Tombes.[20] Não foi possível consultar todas as obras de Blake, mas esta foi de grande utilidade em nossa pesquisa: Vindiciae Foederis; or A Treatise of the Covenant of God Entered With Man-Kinde, In the Severa Kindes and Degrees of it [O Pacto Vindicado, ou Um Tratado sobre a Aliança de Deus Feita com a Raça Humana, em seus Diversos Tipos e Graus], publicada em Londres em 1653.
Herman Witsius (1636-1708), embora fosse um teólogo estrangeiro, exerceu uma influência determinante na teologia do pacto na Inglaterra. Seu federalismo é, em alguns aspectos, o ponto central entre o federalismo dos teólogos de outras partes do continente, incluindo Zuínglio, Bullinger, Calvino, Ursino, Oleviano e Cocceius, e os da teologia Reformada na Inglaterra.[21] Sua obra, publicada em quatro volumes, The Economy of the Covenants Between God and Man [A Economia dos Pactos Entre Deus e o Homem] (1677), é considerada por muitos a expressão definitiva da ortodoxia pedobatista Reformada.
Samuel Petto (1642-1711) é uma figura desconhecida da teologia Inglesa.[22] Ainda assim, Petto foi um dos maiores defensores do pedobatismo baseado na teologia do pacto e um importante questionador dos Batistas durante a segunda metade do século XVII.[23] Sua obra mais significante é The Great Mistery of the Covenant of Grace [O Grande Mistério do Pacto da Graça], que foi republicada em 2007. Esse escrito é particularmente importante para o assunto que estudaremos, visto que leva em conta a fragilidade da qual os Batistas acusavam a teologia do pacto dos Presbiterianos, além de tentar defendê-la. Outro de seus tratados é uma resposta direta a uma publicação Batista: Infant-Baptism Vindicated from Exceptions of Mr. Thomas Grantham [O Batismo Infantil Vindicado das Objeções do Sr. Thomas Grantham], publicada em 1691. Uma terceira obra de Petto, Infant-Baptism of Christ’s Appointment [Batismo Infantil, uma Designação de Cristo] aborda o pedobatismo do ponto de vista da teologia do pacto.[24]
François Turretini (1623-1687) não era, é claro, um teólogo inglês. Entretanto, é interessante notar as similaridades entre a Academia de Genebra e a teologia de Westminster durante o século XVII. Turretini influenciou os Puritanos. Sua Institutio Theologiae Elenticae [Compêndio de Teologia Apologética] representou, imediatamente, a teologia padrão do pensamento da escola Reformada. Nela, a teologia do pacto de Turretini é apresentada em doze capítulos intitulados: The Covenant of Grace and Its Twofold Economy in the Old and New Testaments [O Pacto da Graça e Sua Dupla Economia no Antigo e no Novo Testamentos].[25] O próprio título dessa seção de sua obra nos permite ver que o modelo Presbiteriano de entendimento do Pacto da Graça — um pacto, duas administrações — era difundido.
2.2.2. Os Batistas
John Spilsbury (1598-1668) pertence à primeira geração de Batistas Calvinistas e foi o primeiro pastor da primeira igreja Batista Calvinista, fundada em 1638.[26] Ele é um dos signatários da Primeira Confissão de Fé Londrina de 1644 e de sua versão revisada dois anos depois.[27] Um ano antes da emissão desse documento, Spilsbury publicou um tratado sobre o batismo intitulado A Treatise Concerning the Lawful Subject of Baptisme [Um Tratado Acerca da Legitimidade dos Sujeitos do Batismo]. Ele apresenta um entendimento da teologia do pacto que é radicalmente diferente daquele dos seus contemporâneos pedobatistas. É de suma importância que um dos mais antigos tratados dos Batistas Particulares[28] que defende o credobatismo o faça com base na teologia do pacto. Isso mostra que a identidade Batista manteve, desde o princípio, um federalismo distinto e que o batismo de crentes é resultado de um entendimento diferente das alianças bíblicas.
Henry Lawrence (1600-1664) foi um Puritano e estadista intimamente associado a Oliver Cromwell. De acordo com o sumário biográfico da Enciclopédia Britânica: Dictionary of National Biography, Lawrence foi designado para as funções políticas, e não eclesiásticas.[29] Não sabemos se Lawrence se juntou oficialmente aos Batistas, mas o tratado que publicou anonimamente, chamado On Baptism [Sobre o Batismo] (1646), não deixa dúvida sobre sua teologia. Lawrence criticou inflexivelmente a teologia pedobatista e defendeu um federalismo coerente com o credobatismo.
Thomas Patient (?-1666) foi o pastor assistente de William Kiffin em Londres. Esteve no centro do crescimento efervescente do movimento Batista durante as décadas de 40 e 50[30] e foi um dos signatários da Primeira Confissão de Fé Londrina. Foi enviado como missionário à Irlanda pelo governo de Cromwell, onde estabeleceu a primeira comunidade de convicção Batista, a Waterford Baptist Church [Igreja Batista de Waterford].[31] Durante seu tempo na Irlanda, escreveu o tratado: The Doctrine of Baptism, And the Distinction of the Covenants [A Doutrina do Batismo, e a Distinção das Alianças] (1654). Nele, Patient denuncia a teologia pedobatista como sendo um entendimento incorreto das alianças bíblicas, atacando principalmente o paradigma Presbiteriano: um pacto, duas administrações.
John Bunyan (1628-1688) é certamente um dos, senão o mais conhecido dos Puritanos. É frequentemente considerado como sendo parte da tradição Batista, embora a igreja que pastoreava não fosse uma igreja intrinsecamente Batista. Não obstante, é verdade que a teologia de Bunyan era bastante semelhante à dos Batistas e dos Congregacionais; e que fora batizado na Igreja de Bedford por imersão. As obras de Bunyan são numerosas e consistem principalmente de sermões. Bunyan também escreveu um tratado sobre a teologia do pacto que se encontra na coleção de suas obras publicada em três volumes pela The Banner of Truth, intitulada The Doctrine of the Law and Grace Unfolded [A Doutrina da Lei e da Graça Exposta].
Edward Hutchinson foi um Batista Calvinista que defendeu o credobatismo opondo-se ao federalismo Presbiteriano. Sabemos muito pouco acerca de sua vida. Sabemos apenas que era pastor de uma congregação Batista na Irlanda.[32] Publicou um importante tratado em 1676 no qual fala diretamente da relação entre o Pacto e o batismo: A Treatise Concerning the Covenant and Baptism[33] [Um Tratado Acerca do Pacto e do Batismo]. A esse mesmo tratado, acrescentou dois apêndices: Some Short Questions and Answers for the Younger Sort [Algumas Perguntas e Respostas Para os Jovens], bem como uma resposta a um tratado pedobatista: Animadversions Upon a Late Book, Intituled, Infant Baptism From Heaven and Not of Men, In Answer to Mr. Henry Danvers his Treatise of Baptism [Crítica a um Livro Recente, Intitulado, Batismo Infantil: do Céu, e Não dos Homens, Resposta ao Sr. Henry Danvers e seu Tratado Sobre o Batismo].
Nehemiah Coxe (?—1688), em nossa humilde opinião, é o teólogo Batista mais significante no que se refere à teologia do pacto. Ele era filho de Benjamin Coxe, um dos signatários da Primeira Confissão de Fé Londrina.[34] Seu tratado, A Discourse of the Covenants that God made with men before the Law [Um Tratado sobre os Pactos que Deus fez com os homens antes da Lei] (1681)[35] traça as diferenças fundamentais entre Presbiterianos e Batistas baseado em seus respectivos entendimentos do pacto Abraâmico. Coxe resume o que distingue os Batistas da seguinte forma: “[…] a Antiga Aliança e a Nova diferem em substância, e não apenas na forma como são administradas”.[36] O restante de sua obra dedica-se a mostrar que a Antiga e a Nova Aliança não são duas administrações de um só e mesmo Pacto, mas duas Alianças diferentes.
O federalismo de Coxe é ainda mais importante, pois ele foi o principal artesão da Segunda Confissão de Fé Londrina, oficialmente adotada pelas igrejas Batista da Inglaterra em 1689.[37] À luz do tratado de Coxe sobre a teologia do pacto, a formulação distinta do capítulo 7 da Segunda Confissão de Fé Londrina torna-se particularmente significante. Devido à importância do tratado de Coxe quanto à interpretação da Confissão de Fé Batista, seu federalismo pode praticamente ser considerado como o padrão dos Batistas Calvinistas.
Thomas Grantham (?-1692) foi o mais ilustre teólogo dos Batistas Gerais. Entrou em debate com Samuel Petto e estabeleceu uma crítica muito coerente ao federalismo Presbiteriano. Obtivemos acesso somente ao tratado escrito por Grantham perto do fim de sua vida: Truth and Peace or the Last and most Friendly Debate Concerning Infant Baptism [Verdade e Paz, ou o Último e mais Amigável Debate Acerca do Batismo Infantil] (1689). Embora ele fosse Arminiano, seu federalismo está, em muitos aspectos, de acordo com aquele dos Batistas Calvinistas; de fato, Grantham utiliza o tratado de Coxe para sustentar seu argumento.[38]
Benjamin Keach (1640-1704) é, sem dúvida, o principal teólogo Batista da segunda metade do século XVII. Foi um autor prolífico, mas não trouxe novas contribuições à teologia do pacto. Nem mesmo os tratados de Keach que abordam esse assunto diretamente são focados na controvérsia do batismo: The Everlasting Covenant [O Pacto Eterno] (1693); The Display of Glorious Grace: Or, the Covenant of Peace Opened, in Fourteen Sermons [A Revelação da Graça Gloriosa: Ou, a Aliança de Paz Explicada em Quatorze Sermões] (1689). As diferenças fundamentais dos Batistas, no entanto, estão presentes neles.
2.3. John Owen, o Batista
O leitor atento notará que nossa lista de 15 teólogos que contribuíram para o debate sobre a teologia do pacto no século XVII está incompleta. Falta o nome do teólogo inglês mais influente de todos os tempos: John Owen (1616-1683). Owen merece menção especial, pois seu federalismo é parecido com o dos Batistas, muito embora tivesse permanecido pedobatista durante toda a vida.[39] Portanto, é necessário justificar o fato de que usaremos um teólogo pedobatista para defender uma teologia Batista.
Primeiro, note que a posição de Owen acerca da Antiga Aliança foi intermediária. Essa é a conclusão de Sinclair Ferguson.[40] Richard Barcellos explica o pensamento de Ferguson:
[…] O entendimento de Ferguson acerca do pensamento moderado de Owen tem a ver com a natureza e propósito da Antiga Aliança e sua relação com o Pacto de Obras Adâmico, o Pacto da Graça e a Nova Aliança. Diferente de outros, Owen não acreditava que a Antiga Aliança era um pacto de obras em si ou simplesmente uma administração do Pacto da Graça.[41]
Nos dias de Owen, havia uma tendência antinomiana — representada particularmente pelos Socinianos, que consideravam que a Antiga Aliança era um Pacto de Obras. Os Presbiterianos que consideravam que a Antiga Aliança era um Pacto de Graça se opuseram àquela tendência. Owen considerava que a Antiga Aliança não era o Pacto de Obras nem o da Graça; é por isso que Ferguson diz que a posição de Owen era intermediária. Podemos dizer que essa posição intermediária também foi endossada pelos Batistas, algo que veremos adiante. Owen rejeitou o modelo de um Pacto da Graça sob duas administrações. Enquanto alguns Pedobatistas viam a Antiga Aliança como sendo diferente quanto à circunstância,[42] mas idêntica em substância à Nova Aliança, Owen considerava que aquela diferia desta tanto em circunstância como em substância.
Outra razão que nos permite acreditar que os Batistas compartilhavam o federalismo de John Owen encontra-se em seus escritos. Edward Hutchinson, por exemplo, depois de ter apresentado seu entendimento do pacto Abraâmico e a conexão deste com o Pacto da Graça, usa os escritos de Owen extensivamente para provar que diz a mesma coisa acerca dos Pactos que ele. Em seguida, declara a seus interlocutores pedobatistas:
E se nossos oponentes pensam que o Dr. Owen foi ofendido pelo uso que fazemos de suas palavras a nosso favor, sendo ele um pedobatista; dizemos que estejam à vontade para reconciliar tais palavras com suas práticas, se é que podem fazê-lo […]. O Dr. Owen discorre sobre a natureza do Pacto e das promessas feitas a Abraão (e talvez esquecendo o batismo infantil), explicando-as com tamanha espiritualidade e ortodoxia, que não sobra lugar para o batismo infantil, antes exclui todas as possibilidades deste.[43]
Por causa disso, os Batistas pensavam que a teologia de Owen estava em perfeita harmonia com sua própria, e por isso consideravam como inconsequência o fato de o Príncipe dos Puritanos ser pedobatista.[44] Eles ainda acreditavam que Owen, mesmo sem se dar conta disso, estava destruindo o federalismo Presbiteriano em seus escritos, e colocaram o onus probandi sobre os pedobatistas, deixando que eles mesmos explicassem a teologia de Owen de acordo com suas práticas de batismo. Por exemplo, Owen escreve:
E nisto se encontra o erro dos judeus do passado, no que foram seguidos por sua posteridade até os dias de hoje. Eles não julgavam que nada mais era necessário para seu interesse[45] no pacto Abraâmico, uma vez que eram sua descendência segundo a carne; e, constantemente, pleiteavam este último privilégio como fundamento e razão do primeiro. De fato, eles eram filhos de Abraão segundo a carne; mas, quanto a isso, eles não podem ter nenhum outro privilégio senão o que o próprio Abraão teve em sua carne; e isso, como já demonstramos, é que ele deveria ser separado como um canal especial, através de cujos lombos Deus proveria a Descendência prometida ao mundo. Nesse sentido, os judeus foram separados como povo especial, a posteridade de Abraão, de quem Cristo viria.
Que esta separação e privilégio deveriam cessar quando se cumprisse o objetivo, e o Messias viesse, a própria natureza da coisa o declara; pois, com qual propósito essas coisas deveriam continuar, uma vez que o porquê de terem sido constituídas se cumpriu? Mas eles estendem esse privilégio e o misturam com o outro, alegando que, porque eram filhos de Abraão segundo a carne, toda a bênção do pacto Abraâmico pertencia também a eles. Mas, como nosso Salvador provou que naquele último sentido eles não eram os filhos de Abraão, porque não fizeram as obras de Abraão; assim nosso apóstolo demonstra plenamente em passagens como Romanos 4, 9, 10, 11 e Gálatas 3, 4 que aqueles que não tiveram a fé de Abraão também não tinham parte nas bênçãos e no pacto. Vendo, portanto, que o antigo privilégio chegara ao fim, bem como todas as ordenanças carnais que o acompanhava, pela realização da vinda do Messias; caso não obtivessem direito à bênção espiritual, pela fé na Descendência prometida, evidentemente eles não poderiam ser considerados verdadeiros participantes do pacto de Deus.[46]
Parece que, ao escrever estas linhas e pensar acerca da teologia do pacto, Owen não ponderou sobre o pedobatismo.
Outro indício de harmonia entre o federalismo de Owen e dos Batistas encontra-se na epístola introdutória de Nehemiah Coxe, em seu tratado sobre os Pactos. Coxe explica aos seus leitores por que ele terminou sua exposição das alianças bíblicas no pacto Abraâmico sem chegar ao pacto Sinaítico:
Portanto, pretendia me aprofundar nisso em um tratado sobre o pacto feito com Israel no deserto e o estado da igreja sob a lei. Mas, quando terminei este livro e encontrei outros materiais também sobre o assunto, concluí que meu trabalho para esclarecer tais questões felizmente foi impedido pelo lançamento do terceiro volume da obra do Dr. Owen sobre Hebreus. Ali se encontra uma longa discussão da matéria, e as objeções que parecem contradizer esse pensamento são respondidas por completo, especialmente na exposição do oitavo capítulo. Indico essa obra, na qual o leitor encontrará proporcional satisfação que se espera de alguém tão letrado e sábio.[47]
Não sabemos se Owen endossou o federalismo de Coxe. Entretanto, evidentemente, Coxe, um Batista, endossou o federalismo de Owen. Como veremos, o comentário de Owen sobre o capítulo 8 do livro de Hebreus não deixa dúvidas quanto à consistência de seu federalismo com relação ao dos credobatistas.
3. Breve Resumo Histórico da Teologia Pactual
Teologia pactual ou teologia do pacto[48] é um estudo dos diferentes pactos que Deus fez com o homem desde o começo do mundo. A conexão entre Deus e a criatura, que Ele mesmo fez segundo o que está revelado nas Sagradas Escrituras, sempre foi definida em termos pactuais possuindo diferentes objetivos e termos. Como a história bíblica ocorre inteiramente no âmbito desses pactos, é imperativo entender as naturezas e os papéis destes, a fim de interpretar corretamente as Escrituras. Consequentemente, a teologia pactual ou teologia do pacto fornece um contexto que permite o entendimento da estrutura global do plano de redenção ao estabelecer as diferenças entre as partes e o todo e ao explicar como essas partes se inserem no todo.
Essa abordagem à Escritura é uma característica fundamental da teologia Reformada.[49] Foi através do redescobrimento da justificação por imputação que Ulrico Zuínglio (1484-1531), graças ao paralelo entre Adão e Cristo em Romanos 5, também redescobriu o pacto Adâmico.[50] Então veio a controvérsia com os Anabatistas, a qual forçou Zuínglio a formular sua doutrina em termos que determinaram o federalismo pedobatista de forma definitiva. A insistência dos Anabatistas na exclusividade do Novo Testamento no estabelecimento da doutrina da igreja levou Zuínglio a defender a unidade dos dois Testamentos. Para Zuínglio, bem como para os teólogos Reformados que o seguiram, a substância desta unidade residia no Pacto da Graça. Assim, a leitura Reformada das Escrituras consiste, primeiro, em um pacto inicial em Adão, chamado de Pacto de Obras. Em seguida, imediatamente após a Queda, Deus fez um segundo pacto chamado de Pacto da Graça. O Pacto da Graça foi colocado sob uma primeira administração, a qual se encontra no Antigo Testamento. Essa administração foi elementar e temporária. Depois disso, veio a segunda administração do Pacto da Graça, a qual encontramos no Novo Testamento. Esta segunda administração é perfeita e definitiva.
A Igreja Reformada, portanto, via a Antiga Aliança como uma aliança de graça. Essa concepção impactou significativa e definitivamente a eclesiologia Reformada porque, ao considerar que a Igreja estava sob o mesmo pacto que os descendentes de Abraão, as Escrituras do Antigo Testamento tornaram-se normativas na definição da doutrina da Igreja e sua ligação com o Pacto da Graça. Encontramos a predominância dessa ênfase na unidade entre os Testamentos em quase todas as obras dos sucessores de Zuínglio.
Heinrich Bullinger (1504-1575), em seu tratado “De Testamento seu Foedere Dei Unico et Aeterno” [Sobre o Único e Eterno Testamento ou Pacto de Deus], embora tenha considerado que a Antiga Aliança reafirmava em sua lei o princípio do Pacto de Obras, endossou a ideia de que ela era essencialmente uma administração do Pacto da Graça.[51] Assim como outros teólogos pedobatistas posteriores, Bullinger fez uma distinção entre a substância e a circunstância de um pacto. A substância da Antiga Aliança era o Pacto da Graça; sua circunstância era a dispensação do Antigo Testamento.
Nenhum teólogo influenciou mais a maneira Reformada de pensar do que Calvino; portanto, seu federalismo é importante. É claro, a teologia do pacto constitui a base de todo o pensamento de Calvino. Os capítulos IX, X e XI do Livro II de suas Institutas da Religião Cristã tratam especificamente dessa questão.[52] Encontramos as principais características do federalismo pedobatista na obra de Calvino. Assim como seus predecessores e seus sucessores, ele viu a Antiga e a Nova Aliança como sendo duas administrações do Pacto da Graça. “O pacto feito com todos os pais em nada difere do nosso em realidade e substância, o qual, em última instância, é um e o mesmo, ainda que seja diferente em sua forma de dispensação”.[53] Ele acreditava que o Pacto da Graça é um pacto misto: “Entretanto, nesta igreja estão misturados muitos hipócritas, que nada têm de Cristo a não ser o nome e a aparência”.[54] E ele justifica o batismo dos filhos dos crentes com base em seu direito ao Pacto da Graça.[55]
Não obstante, Calvino não rejeita a aparente descontinuidade entre o Antigo e o Novo Testamento. Em seu comentário sobre Hebreus, chega ao ponto de escrever: “De outro modo, o profeta teria simplesmente dito: ‘Renovarei o pacto que por vossa culpa fracassou’. Ora, ele diz expressamente que o pacto será diferente do primeiro”.[56] Com isso, Calvino afirma que a Nova Aliança não é simplesmente uma renovação da Antiga Aliança, mas, de fato, uma Nova Aliança, ou, em outras palavras, um pacto diferente. Apesar disso, seus outros escritos sugerem que ele viu as diferenças entre as duas Alianças como sendo circunstanciais em sua natureza, não em sua substância.
Ademais, a fim de evidenciar a descontinuidade entre as duas Alianças em seus escritos, Calvino mostrou outra distinção que a maioria dos seus sucessores deixou de lado. Ao comentar o terceiro capítulo da segunda epístola de Paulo aos Coríntios, Calvino indicou que o Pacto da Graça não era em si mesmo uma parte da substância da Antiga Aliança:
Ambos (Jeremias e Paulo), porém, já que estão a contrastar Antigo e Novo Testamentos, nada consideram na lei senão o que lhe é próprio. Por exemplo: a lei contém, aqui e ali, promessas de misericórdia. No entanto, uma vez que essas promessas são adventícias a ela, ou seja, vem de fora dela e, portanto, não podem ser consideradas como parte da lei, quando a consideramos somente em sua própria natureza.[57]
Resta saber se Calvino entendeu a palavra “lei” nesta passagem da Escritura como referência à Antiga Aliança. Se este é o caso, então Calvino faz uma distinção que será essencial à teologia Batista: que o Pacto da Graça não faz parte da substância da Antiga Aliança mesmo que aquele houvesse sido revelado durante sua administração. Infelizmente, Calvino não explicou melhor esse ponto. Isso teria requerido uma reconsideração da natureza da Antiga Aliança. Frequentemente encontramos esse tipo de tensão na teologia de Calvino, onde o que ele afirma parece estar em oposição ao que ele havia dito antes.[58] O Calvinismo é uma harmonização das doutrinas que completam mutuamente umas às outras. Os sucessores de Zuínglio, Bullinger e Calvino reafirmaram com grande clareza e precisão o que eles mesmos já haviam estabelecido.[59]
[1] O magistral estudo ao qual o autor se refere foi publicado neste ano, 2018, sob o título: From Shadow to Substance: The Federal Theology of the English Particular Baptists [Da Sombra à Substância: A Teologia Federal dos Batistas Particulares Ingleses].
[2] A não ser quando especificado de outra forma, usaremos o termo “pedobatista” para identificar os cristãos de convicção Presbiteriana na Inglaterra do século XVII, uma vez ter sido principalmente com eles que os Batistas debateram sobre as questões tratadas nesta dissertação. Igualmente, usaremos o termo “Batista” para designar, especificamente, os Batistas Calvinistas ingleses do século XVII associados à Confissão de Fé de 1689.
[3] “Teologia pactual” foi a nosso termo preferido para traduzir a expressão “covenant theology”. Contudo, ao longo desta obra usaremos intercambiavelmente os termos “teologia pactual”, “teologia do pacto”, “teologia aliancista” e “teologia da aliança”, todos estes são traduções de “covenant theology” – N.doE.
[4] Ligon Duncan, Covenant Theology; The Abrahamic covenant – Covenant Sign Implications [Teologia do Pacto; O Pacto Abraâmico – As Implicações do Pacto]. 12 palestras de duas horas de duração do curso de teologia pactual do Reformed Theological Seminary.
[5] James M. Renihan, Edification and Beauty: The Practical Ecclesiology of the English Particular Baptists, 1675-1705 [Edificação e Beleza: A Prática Eclesiológica dos Batistas Particulares Ingleses, 1675-1705]. Eugene, OR, Wipf & Stock, 2009, p. 37. Obviamente, eles tinham ainda mais diferenças com os Presbiterianos do que com os Independentes (i.e. Congregacionais).
[6] Isso serve para refutar uma crença aparentemente comum entre alguns Reformados brasileiros de que os Batistas Reformados e Confessionais rejeitam o batismo infantil apenas com base no princípio regulador do culto, e não também devido ao seu próprio entendimento da doutrina dos pactos de Deus – N.doE.
[7] Posteriormente, Charles Spurgeon escreve: “A doutrina do pacto é a raiz de toda teologia verdadeira. Tem sido dito que aquele que entende a diferença entre o Pacto de Obras e o Pacto da Graça é um mestre em teologia. Estou persuadido de que a maioria dos erros cometidos pelos homens acerca das doutrinas da Escritura está baseada em erros fundamentais com relação aos Pactos da lei e da graça”. C.H. Spurgeon. “Sermão XL, O Pacto”. The Sermons of Rev. C.H. Spurgeon of London, 9th Series [Os Sermões do Rev. C.H. Spurgeon de Londres, 9° série], New York, Robert Carter & Brothers, 1883, p. 172.
[8] Teologia federal (foedus = covenant = pacto/aliança) e teologia pactual/do pacto ou teologia aliancista/da aliança são expressões sinônimas.
[9] David Benedict, A General History of the Baptist Denomination in America and Other Parts of the World[História Geral da Denominação Batista na América e em Outras Partes do Mundo], New York, Lewis Colby and Company, 1850, p. 146. A teologia da aliança teve origem antes do século XVII, mas o diálogo entre Presbiterianos e Batistas trouxe grande progresso a essa doutrina. A teologia pactual pedobatista desenvolveu-se progressivamente desde o início da Reforma até sua expressão mais madura no contexto da Assembleia de Westminster (cf. Mark W. Karlberg, Covenant Theology in Reformed Perspective [Teologia Pactual na Perspectiva Reformada]), Eugene OR, Wipf and Stock Publishers, 2000, pp. 17-38. Mas o federalismo de Westminster foi rapidamente colocado à prova pelos Batistas. Os pedobatistas foram forçados a refinar sua linha de raciocínio, ou até mesmo criar novas posições dentro de seu grupo.
[10] Em Works in the Mosaic Covenant: A Reformed Taxonomy. In The Law Is Not Of Faith: Essays on Works and Grace in the Mosaic Covenant [As Obras no Pacto Mosaico: Uma Taxonomia Reformada. In A Lei Não Provém da Fé: Ensaios Sobre Obras e Graça no Pacto Mosaico], Phillipsburg, P&R, 2009, pp. 76-103, Brenton C. Ferry começa o capítulo com uma citação de Anthony Burgess, um teólogo pedobatista do século XVII, acerca da teologia pactual: “Não encontrei em nenhum ponto da teologia homens instruídos tão confusos e perplexos como aqui”. Sua apresentação rapidamente convence de que não havia uniformidade entre os aliancistas Reformados. Apesar das muitas nuances que encontramos entre os teólogos pedobatistas daquela época no que diz respeito à teologia do pacto, acreditamos que há um denominador comum que tentaremos assinalar na presente obra.
[11] Além disso, eles mesmos admitem isso no apêndice da Confissão de Fé de 1689.
[12] Como o campo de estudo deste trabalho é a teologia pactual na Inglaterra do século XVII, não seremos capazes de avaliar o corrente debate entre Batistas Reformados e pedobatistas de forma satisfatória. Entretanto, esperamos ser capazes de mostrar, tanto ali como aqui, a continuidade histórica entre o debate do século XVII e o que ocorre hoje, assinalando os grandes princípios teológicos que têm persistido através da história e, ocasionalmente, intercambiando a discussão entre autores antigos e modernos. Acerca da continuidade histórica da abordagem Reformada, recomendamos o trabalho de Richard C. Barcellos, The Family Tree of Reformed Biblical Theology: Geerhardus Vos and John Owen, Their Methods of and Contributions to the Articulation of Redemptive History [A Árvore Genealógica da Teologia Bíblica Reformada: Geerhardus Vos e John Owen, Seus Métodos e Contribuições para a Articulação da História da Redenção], Owensboro, Reformed Baptist Academic Press, 2010, 324 pp. Barcellos demonstra a continuidade entre a teologia pactual do século XVII e a teologia bíblica do século XIX.
[13] Antes de ser modificada pelos Batistas, a Confissão de Fé de Westminster foi alterada pelos Congregacionais na Declaração de Savoy (1658). A maioria das mudanças introduzidas pela Declaração de Savoy foi adotada pelos Batistas. Em poucos casos, entretanto, estes preferiram a formulação da Confissão de Fé de Westminster à da Declaração de Savoy. No que diz respeito à teologia pactual, surpreendentemente, a declaração de Savoy permaneceu bastante fiel à de Westminster. Ao que parece, pelo menos em sua declaração, os Congregacionais consideraram sua eclesiologia separadamente, pois mantiveram a mesma teologia pactual dos Presbiterianos enquanto rejeitaram a eclesiologia deles. É por isso que não estamos comparando a Confissão de Fé de 1689 com a Declaração de Savoy, mas com a de Westminster.
[14] A Confissão de Fé Batista de 1644 apresenta a redenção em termos que se referem diretamente à teologia do Pactum Salutis e Historia Salutis da escolástica Reformada. Veja, especificamente, os artigos XI e XII.
[15] Diversas fontes secundárias comentam e interpretam as confissões e catecismos mencionados acima. Dois comentários desses documentos, entretanto, podem ser considerados como fontes originais: o comentário de David Dickson da Confissão de Fé de Westminster, publicado em 1684: Truth’s Victory Over Error [A Vitória da Verdade Sobre o Erro], e o comentário de Benjamin Beddome do Catecismo Batista, publicado em 1776: A Scriptural Exposition of the Baptist Catechism [Uma Exposição Bíblica do Catecismo Batista].
[16] James M. Renihan, True Confessions: Baptist Documents in the Reformed Family [Confissões Verdadeiras: Documentos Batistas na Família Reformada], Owensboro, Reformed Baptist Academic Press, 2004, 235 pp. É óbvio que os Batistas estavam preocupados em identificarem a si mesmos com a herança da Reforma. Isso explica a relação próxima de seus documentos oficiais com aqueles de outros movimentos Reformados. Esse desejo por unidade não fazia com que se abstivessem de declarar suas convicções distintas nesses mesmos documentos. Todavia, eles sempre as declaravam com atitude irênica. No apêndice da Confissão de Fé Batista de Londres de 1689, os Batistas afirmam tê-la publicado para demonstrar unidade com outros cristãos Protestantes: “E embora discordemos de nossos irmãos Pedobatistas no que diz respeito ao Batismo e administração do mesmo, e outras particularidades que dependem necessariamente de nosso entendimento desta Ordenança, e frequentemos nossas próprias assembleias para edificação mútua, e prática dos deveres e serviços que nos são devidos para com Deus, em temor uns para com os outros; ainda assim, não deveríamos ser mal interpretados, como se a liberdade de nossa consciência quanto a isso de alguma forma nos desobrigasse ou alienasse nossas afeições ou conversações de quaisquer pessoas que temem ao Senhor. Sempre que temos oportunidade participamos dos esforços daqueles a quem Deus dotou com habilidades superiores às nossas, e qualificou, e chamou para o Ministério da Palavra…”.
[17] Medulla Theologiae [A Medula/O Essencial da Teologia] foi o manual de instruções básico em Harvard durante o tempo das colônias e foi considerado o melhor sumário da teologia Calvinista por muito tempo. Cf. Joel Beeke & Randall Pederson, Meet the Puritans [Conheça os Puritanos], Grand Rapids, Reformation Heritage Books, 2006, p. 47ss. [Publicado no Brasil pela PES sob o título: Paixão pela Pureza – N.doE].
[18] Thomas Goodwin, um Congregacional, acreditava que “A Medula da Teologia” foi, depois das Escrituras Sagradas, o melhor livro do mundo; ibid., p. 45. Os Batistas usaram a mesma obra como recurso quando escreveram a Primeira Confissão de Fé Londrina em 1644, 46; cf. James M. Renihan, True Confessions: Baptist Documents in the Reformed Family, p. 3s.
[19] Alumni Cantabrigienses, Cambridge University Press. Disponível online em:
[20] John Tombes, apesar de vacilar ligeiramente entre as doutrinas Presbiterianas e Batistas, se opôs, tanto em seus escritos como em debates públicos, à teologia por trás do pedobatismo. Cf. H. Leon McBeth, The Baptist Heritage, Four Centuries of Baptist Witness [A Herança Batista, Quatro Séculos de Testemunho Batista], Neshville, Broadman Press, 1987, p. 110s. Historiadores Batistas geralmente não consideram Tombes um Batista, mas sim um antipedobatismo.
[21] James I. Packer, na introdução da reedição da obra de Witsius, apresenta o livro como a síntese da teologia pactual Reformada daquele tempo. Como veremos, a proximidade entre a teologia de Witsius e a da Assembleia de Westminster é inegável.
[22] É assim que Mark Jones apresenta Petto em comparação com John Owen, a figura esquecida da teologia Inglesa. The Great Mistery of the Covenant of Grace [O Grande Mistério do Pacto da Graça], Stoke-on-Trent, Tentmaker Publications, 2007, p. 9. John Owen escreveu o prefácio desse tratado e calorosamente recomendou sua leitura.
[23] Ibid. p. 10. Em certos aspectos, a teologia de Petto está de acordo com a dos Batistas em oposição ao posicionamento Presbiteriano tradicional. Petto rejeitava, por exemplo, o modelo “um pacto, duas administrações” como explicação do Pacto da Graça e sua relação com a Antiga e a Nova Alianças. Assim como os Batistas, ele considerava que a Antiga e a Nova Alianças não eram duas administrações de um mesmo Pacto, mas duas Alianças distintas. Petto é um dos pedobatistas que reajustaram seu federalismo adotando uma posição intermediária. Acreditamos que a afirmação do ponto de vista Batista o influenciou.
[24] Para uma breve e eficiente análise da teologia de Petto e, especificamente, seu ponto de vista peculiar do pacto Mosaico, cf. Michael Brown, Christ and the Condition: The Covenant Theology of Samuel Petto (1623-1711) [Cristo e a Condição: A Teologia Pactual de Samuel Petto], Grand Rapids, Reformation Heritage Books, 2012, 139 pp.
[25] François Turretini, Institutes of Elenctic Theology, Phillipsburg, P&R, 1992, vol. 2, p. 169.
[26] Porém, o batismo de crentes por aspersão não foi substituído pela imersão até 1640.
[27] Os dois títulos exatos são respectivamente: The Confession of Faith, of those Churches which are commonly (though falsly) called Anabaptists, London, 1644 [A Confissão de Fé, das Igrejas que são comumente (embora falsamente) chamadas Anabatistas, Londres, 1644]. A Confession of Faith, of Severall Congregations or Churches of Christ in London, which are commonly (though unjustly) called Anabaptists, The second Impression corrected and enlarged, London, Printed by Matth. Simmons, 1646 [A Confissão de Fé, de Várias Congregações ou Igrejas de Cristo em Londres, que são comumente (embora injustamente) chamadas Anabatistas, a segunda Edição, corrigida e ampliada, Impresso por Matthew Simmons, Londres, 1646].
[28] Para nosso conhecimento, dois Batistas Particulares defenderam o credobatismo em seus escritos antes de Spilsbury: Robert Barrow (1642) e Andrew Ritor (1642). Spilsbury parece, no entanto, ter sido o primeiro a fazer isso usando extensivamente a teologia do pacto.
[29] Gordon Goodwin, “Lawrence, Henry”. Dictionary Of National Biography, Londres, Smith, Elder & Co., 1892, volume 32, pp. 256-58.
[30] Historiadores acreditam que o movimento Batista Particular começou oficialmente por volta de 1638 e que por volta da década de 50 havia aproximadamente 130 igrejas Batistas Calvinistas nas Ilhas Britânicas. O contexto peculiar da Primeira Revolução Inglesa explica esse crescimento surpreendente.
[31] Cf. Crawford Gribben, The early Irish Baptists [Os primeiros Batistas Irlandeses], Escondido, The Institute of Reformed Baptist Studies, March 17, 2008, disponível em: <http://www.reformedbaptistinstitute.org/?p=60>.
[32] Joseph Ivimey, A History of the English Baptists [Uma História dos Batistas Ingleses], Londres, impresso por Burdirt e Morris, 1811, p. 404.
[33] Thomas Delaune, genro de Hutchinson, escreveu um prefácio nesse livro; ibidem.
[34] Cf. James M. Reniham, An Excellent and Judicious Divine: Nehemiah Coxe [Um Teólogo Exelente e Judicioso: Nehemiah Coxe] e Covenant Theology: From Adam to Christ [Teologia Pactual: De Adão a Cristo], Palmdale, Reformed Baptist Academic Press, 2005, p. 7-11.
[35] A editora Reformed Baptist Academic Press lançou uma edição moderna desse livro em 2005 que também conta com a exposição da John Owen do capítulo 8:6-13 da epístola aos Hebreus.
[36] Nehemiah Coxe, A Discourse of the Covenants that God made with men before the Law, Covenant Theology: From Adam to Christ, Palmdale, Reformed Baptist Academic Press, 2005, 1681.
[37] James M. Reniham, An Excellent and Judicious Divine: Nehemiah Coxe, pp .18-20. Cf. também: Michael Haykin, Kiffin Knollys & Keach: Rediscovering English Baptist Heritage [William Kiffin, Hanserd Knollys e Benjamin Keach: Redescobrindo Nossa Herança Batista Inglesa], Leeds, Reformation Today Trust, 1996, pp. 68-69.
[38] Thomas Grantham, Truth and Peace or the Last and most Friendly Debate Concerning Infant Baptism, Londres, Impresso pelo Autor, 1689, p. 6.
[39] A princípio, Owen foi de convicção Presbiteriana, mas, depois de ler The Keys of Kingdom of Heaven[As Chaves do Reino do Céu] de John Cotton, tornou-se Congregacional. Cf. John Owen, A Review of True Nature of Schism [Um Análise da Verdadeira Natureza do Cisma], The Works of John Owen, vol. 13, Carlisle, The Banner of Truth Trust, 1967 (1657), pp. 223-4.
[40] Sinclair Fergunson, John Owen on the Christian Life [John Owen sobre a Vida Cristã], Carlisle, The Banner of Truth Trust, 1987, p. 28.
[41] Richard Barcellos John Owen and New Covenant Theology [John Owen e a Teologia da Nova Aliança]. in Covenant Theology: From Adam to Christ, Palmdale, Reformed Baptist Academic Press, 2005, p. 321.
[42] A palavra “circunstância” é frequentemente usada como sinônimo de “administração”: a Antiga Aliança é uma circunstância (administração) do Pacto da Graça, a Nova Aliança é outra. Algumas vezes também encontramos a palavra “acidente” para designar alguma provisão externa do Pacto. Usaremos as palavras “administração” e “circunstância” como equivalentes.
[43] Edward Hutchinson, A Treatise Concerning the Covenant and Baptism, Londres, Impresso por Francis Smith, 1676, pp. 34-35. Em outro lugar, Hutchinson cita Owen outra vez: “Esta é, de fato, a grande teologia do pacto, pela qual se sustentou o batismo infantil nos últimos anos. Se pudermos demolir sua superestrutura, todo o resto ruirá, como agora engenhosamente se reconhece. Não precisamos empregar maiores esforços além do que o Dr. Owen utiliza […] ao refutar solidamente as alegações de privilégio no nascimento”. Cf. Animadiversions Upon a Late Book, Intituled, Infant Baptism From Heaven and not of Men, In Answer to Mr. Henry Danvers his Treatise of Baptism, p. 41.
[44] Durante nossa leitura dos escritos de Owen, notamos uma contradição. Em Of Infant Baptism and Dipping [Sobre o Batismo Infantil e a Imersão]. In The Works of John Owen, vol. 16, Owen declara que os filhos dos crentes estão no Pacto. Essa concepção contradiz o que ele próprio escreveu em seu comentário da Epístola aos Hebreus, no qual afirma que todos os que estão no Pacto da Graça são regenerados. Como podem todos os filhos dos crentes estarem no Pacto da Graça se nem todos eles são regenerados? Em nossa humilde opinião, essa contradição pode ser explicada por uma progressão do pensamento de Owen (ele escreveu aquele tratado enquanto ainda era Presbiteriano; sua teologia mudou depois de se tornar Congregacional). Acreditamos que seu comentário da Epístola aos Hebreus representa o pensamento de Owen em seu estado maduro e definitivo.
[45] A palavra “interesse” é de uso muito específico nos escritos do federalismo do século XVII; consequentemente, é usada com frequência. Esta é a definição do Oxford English Dictionary: “A relação de estar objetivamente preocupado com algo, por ter o título, o direito de receber ou ter parte naquilo […] b. Direito a privilégios espirituais”. Note o uso passivo da palavra por Owen: os judeus criam que sua linhagem Abraâmica dava-lhes direito (interesse) ao Pacto da Graça.
[46] John Owen, Hebrews, vol.1, Carlisle, The Banner of Truth Trust, 1991, p. 122-123.
[47] Nehemiah Coxe, A Discourse of the Covenants that God made with men before the Law, p. 30.
[48] Conferir nota de rodapé 3.
[49] Mark W. Karlberg, Covenant Theology in Reformed Perspective, p. 17.
[50] Ibid., p. 20.
[51] Cf. Ibid., pp. 21-22.
[52] Os títulos desses capítulos são respectivamente: (IX) Christ, though known to the Jews under the law, yet only manifested under the Gospel; (X) The resemblance between the Old Testament and the New; (XI) The difference between the two Testaments [(IX) Embora Cristo fosse conhecido dos judeus sob a lei; contudo, Se manifestou plenamente no Evangelho; (X) A similaridade do Antigo e Novo Testamentos; (XI) A diferença que há entre os dois Testamentos].
[53] Institutas, 2.10.2. O conceito “um pacto, duas administrações” não é, entretanto, tão claro e frequente nos escritos de Calvino como o é nos teólogos Reformados posteriores. Parece que é particularmente com Zacarias Ursino que esta ideia se torna radical. Mark Karlberg escreve: “Ursino nos fornece aqui uma vital contribuição no desenvolvimento da interpretação bíblica do Pacto. Com relação à definição de aliança, Ursino insiste na importância de reconhecer a unidade substancial do Pacto da Graça, mas tenta, ao mesmo tempo, fazer justiça mais completa às várias administrações do Pacto de Deus”. Covenant Theology in Reformed Perspective, p. 26. Ursino desenvolveu estas ideias em continuidade com os pensamentos de seus predecessores trabalhando e desenvolvendo o pensamento deles mais claramente.
[54] Ibid., 4.1.7.
[55] Ibid., 4.16. 5-6.
[56] João Calvino, Hebreus – Série Comentários Bíblicos, Editora Fiel, 2012 (1549), p. 203.
[57] João Calvino, Institutas, 2.11.7.
[58] A respeito dessa tensão no pensamento de Calvino entre o Pacto da Graça e o Pacto de Obras no pacto Mosaico, cf. J.V. Fesko, “Calvin and Witsius on Mosaic Covenant” [Calvino e Witsius sobre o Pacto Mosaico], The Law Is Not Of Faith, pp. 28-33.
[59] Cf. Mark Karlberg, Covenant Theology in Reformed Perspective, pp. 25-30.
http://oestandartedecristo.com/texto/892/os-distintivos-da-teologia-batista-pactual-por-pascal-denault
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